Ivan Paganotti
Resumo em 5 pontos
1- Os meios de comunicação são essenciais no debate de problemas e soluções que impactam a vida de todos. Eles apresentam uma influência considerável na definição do que merece a atenção coletiva, e quais propostas devem ser consideradas.
2- Essa força da mídia enfrenta uma barreira: a propriedade dos grandes meios de comunicação concentra-se em poucas empresas, sobretudo no Brasil.
3- Com pouca diversidade, falta espaço para perspectivas e temas diferentes. Veículos pequenos, por outro lado, têm dificuldade de conseguir alcançar audiências maiores.
4- É necessário democratizar a comunicação, o que significa ampliar seu acesso a grupos mais amplos da sociedade, impedindo que poucos controlem o debate público.
5- Para isso pode ser necessário criar regulações que limitem o poder dos grandes, além de incentivos financeiros e capacitação para que os menores possam sobreviver e crescer no mercado competitivo pela atenção do público.
Para discutir os problemas que afetam a nossa vida, nem sempre conseguimos reunir todas as pessoas interessadas. Uma família ou a equipe de uma empresa pequena até podem caber em uma sala, mas esses encontros ficam impossíveis se o problema afeta uma cidade, o país ou até o mundo inteiro: não conseguimos juntar todo mundo no mesmo lugar, ao mesmo tempo, e ouvir todas as reclamações e propostas.
É por isso que os meios de comunicação têm um papel tão central na sociedade, dando voz e reunindo diferentes problemas, perspectivas e propostas. Além de garantir o entretenimento com o futebol ou com a novela, a mídia tem um poder muito grande, porque consegue atrair a atenção de muita gente. É por veículos da imprensa que denúncias podem vir à tona, e respostas são cobradas. Também podem destacar atitudes que merecem aplausos, ou apontar sugestões para superar obstáculos.
Assim, a mídia pode funcionar como uma grande sala de reuniões, em que podemos apresentar nossas ideias e ouvir as falas dos outros de forma organizada.
Mas…
… quem tem a chave dessa sala?
… quem escolhe as pessoas que podem falar, e quem deve somente ouvir?
… o que acontece se algumas pessoas não tiverem espaço para falar, ou, pior ainda, não conseguirem nem ouvir direito?
Essa é uma preocupação bastante séria no Brasil, porque um punhado de corporações gigantescas controlam os maiores jornais, revistas, portais online, emissoras de rádio e televisão. Muitas são empresas familiares tradicionais e influentes, e algumas até apresentam conexões com representantes políticos.
A internet deveria ser um espaço mais aberto e com menos barreiras por reduzir custos e permitir uma difusão mais ampla e acelerada. Mas também no espaço virtual algumas poucas plataformas acabam concentrando a maior parte do tráfego. Muitas são controladas por multinacionais como Alphabet (dona da ferramenta de pesquisa Google e do site de vídeos do YouTube) e Facebook (que, além da rede social do mesmo nome, também controla o Instagram e o aplicativo de mensagens WhatsApp).
Como poucos controlam grande espaço da mídia, eles conseguem definir quem tem mais voz e quem pode atingir maior audiência. Indiretamente, podem influenciar quais posições têm maior ou menor espaço, quais informações são reproduzidas ou ignoradas.
O resultado é que nem todo mundo consegue ter sua voz ouvida. Muitos desses meios de comunicação acabam sendo bastante parecidos, porque tratam dos mesmos temas, sempre a partir das mesmas perspectivas. Veículos alternativos, que tratam de temas que podem não interessar à grande mídia e abrem espaço para perspectivas mais diversificadas, enfrentam dificuldade para competir pela atenção da audiência, e muitas vezes acabam sufocados pois não tem a mesma força de difusão dos maiores.
É por isso que o poder da mídia não pode ficar somente na mão de poucas pessoas. Se o debate das questões sociais ocupa o espaço dos meios de comunicação, eles precisam também ser democráticos e garantir que todos tenham seus direitos respeitados.
Assim, democratizar a mídia nada mais é do que garantir que essa grande “sala de debate” dos meios de comunicação esteja aberta para todos, com condições justas, e que ninguém vai ser impedido de falar ou de ouvir.
Mas como democratizar a mídia?
De duas formas:
1- pisando no freio dos grandes;
- Países como EUA, Argentina e diversas nações europeias têm leis rígidas sobre meios de comunicação para evitar que veículos se aproximem do monopólio da esfera pública, prejudiquem competidores ou até seu próprio público. Infelizmente, nessa área o Brasil apresenta regras insuficientes, com muitas lacunas e pouca vigilância.
2- acelerando os menores.
- Outra estratégia complementar envolve ajudar os menores para que eles consigam também seu espaço. Incentivos fiscais e auxílios financeiros podem ajudar veículos alternativos a captar recursos para produzirem seus conteúdos de forma mais eficaz. Também é importante promover oficinas de capacitação, em cursos como esse, para que novos comunicadores entendam os potenciais de diferentes mídias.
Dicas práticas
- Procure ler, acessar e assistir a veículos alternativos ou locais. Assim, você pode ter contato com temas, formatos e opiniões que você não encontraria com facilidade na grande mídia.
- É possível ajudar veículos alternativos divulgando seus conteúdos. Muitos recebem doações voluntárias (as vaquinhas ou crowdfunding), ou dependem de assinaturas para financiar seus custos de produção.
- Você também pode ser um produtor de mídia: se você publica conteúdos em redes sociais, já é um comunicador. Pode aproveitar a facilidade das plataformas digitais e criar um site com colaboradores para difundir suas informações.
Para saber mais
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – http://fndc.org.br
- Grupo que soma centenas de movimentos e associações que procura defender a pluralidade na mídia e combater a concentração da propriedade dos meios de comunicação. Apresenta propostas e campanhas para democratizar a comunicação brasileira.
Intervozes – https://intervozes.org.br
- Coletivo que promove maior acesso à comunicação social, desenvolve estudos importantes para entender os potenciais e as limitações da mídia no Brasil.
Artigo 19 – https://artigo19.org
- Organização não-governamental criada na Inglaterra para defender a liberdade de expressão e o direito à informação. Produz relatórios e cartilhas para mostrar denunciar ameaças de censura no Brasil.