Ivan Paganotti

Resumo em 5 pontos

1- Os meios de comunicação são essenciais no debate de problemas e soluções que impactam a vida de todos. Eles apresentam uma influência considerável na definição do que merece a atenção coletiva, e quais propostas devem ser consideradas.

2- Essa força da mídia enfrenta uma barreira: a propriedade dos grandes meios de comunicação concentra-se em poucas empresas, sobretudo no Brasil.

3- Com pouca diversidade, falta espaço para perspectivas e temas diferentes. Veículos pequenos, por outro lado, têm dificuldade de conseguir alcançar audiências maiores.

4- É necessário democratizar a comunicação, o que significa ampliar seu acesso a grupos mais amplos da sociedade, impedindo que poucos controlem o debate público.

5- Para isso pode ser necessário criar regulações que limitem o poder dos grandes, além de incentivos financeiros e capacitação para que os menores possam sobreviver e crescer no mercado competitivo pela atenção do público.

Para discutir os problemas que afetam a nossa vida, nem sempre conseguimos reunir todas as pessoas interessadas. Uma família ou a equipe de uma empresa pequena até podem caber em uma sala, mas esses encontros ficam impossíveis se o problema afeta uma cidade, o país ou até o mundo inteiro: não conseguimos juntar todo mundo no mesmo lugar, ao mesmo tempo, e ouvir todas as reclamações e propostas.

É por isso que os meios de comunicação têm um papel tão central na sociedade, dando voz e reunindo diferentes problemas, perspectivas e propostas. Além de garantir o entretenimento com o futebol ou com a novela, a mídia tem um poder muito grande, porque consegue atrair a atenção de muita gente. É por veículos da imprensa que denúncias podem vir à tona, e respostas são cobradas. Também podem destacar atitudes que merecem aplausos, ou apontar sugestões para superar obstáculos.

Assim, a mídia pode funcionar como uma grande sala de reuniões, em que podemos apresentar nossas ideias e ouvir as falas dos outros de forma organizada.

Mas…

… quem tem a chave dessa sala?

… quem escolhe as pessoas que podem falar, e quem deve somente ouvir?

… o que acontece se algumas pessoas não tiverem espaço para falar, ou, pior ainda, não conseguirem nem ouvir direito?

Essa é uma preocupação bastante séria no Brasil, porque um punhado de corporações gigantescas controlam os maiores jornais, revistas, portais online, emissoras de rádio e televisão. Muitas são empresas familiares tradicionais e influentes, e algumas até apresentam conexões com representantes políticos.

A internet deveria ser um espaço mais aberto e com menos barreiras por reduzir custos e permitir uma difusão mais ampla e acelerada. Mas também no espaço virtual algumas poucas plataformas acabam concentrando a maior parte do tráfego. Muitas são controladas por multinacionais como Alphabet (dona da ferramenta de pesquisa Google e do site de vídeos do YouTube) e Facebook (que, além da rede social do mesmo nome, também controla o Instagram e o aplicativo de mensagens WhatsApp).

Como poucos controlam grande espaço da mídia, eles conseguem definir quem tem mais voz e quem pode atingir maior audiência. Indiretamente, podem influenciar quais posições têm maior ou menor espaço, quais informações são reproduzidas ou ignoradas.

O resultado é que nem todo mundo consegue ter sua voz ouvida. Muitos desses meios de comunicação acabam sendo bastante parecidos, porque tratam dos mesmos temas, sempre a partir das mesmas perspectivas. Veículos alternativos, que tratam de temas que podem não interessar à grande mídia e abrem espaço para perspectivas mais diversificadas, enfrentam dificuldade para competir pela atenção da audiência, e muitas vezes acabam sufocados pois não tem a mesma força de difusão dos maiores.

É por isso que o poder da mídia não pode ficar somente na mão de poucas pessoas. Se o debate das questões sociais ocupa o espaço dos meios de comunicação, eles precisam também ser democráticos e garantir que todos tenham seus direitos respeitados.

Assim, democratizar a mídia nada mais é do que garantir que essa grande “sala de debate” dos meios de comunicação esteja aberta para todos, com condições justas, e que ninguém vai ser impedido de falar ou de ouvir.

Mas como democratizar a mídia?

De duas formas:

1- pisando no freio dos grandes;

  • Países como EUA, Argentina e diversas nações europeias têm leis rígidas sobre meios de comunicação para evitar que veículos se aproximem do monopólio da esfera pública, prejudiquem competidores ou até seu próprio público. Infelizmente, nessa área o Brasil apresenta regras insuficientes, com muitas lacunas e pouca vigilância.

2- acelerando os menores.

  • Outra estratégia complementar envolve ajudar os menores para que eles consigam também seu espaço. Incentivos fiscais e auxílios financeiros podem ajudar veículos alternativos a captar recursos para produzirem seus conteúdos de forma mais eficaz. Também é importante promover oficinas de capacitação, em cursos como esse, para que novos comunicadores entendam os potenciais de diferentes mídias.

 

Dicas práticas

  • Procure ler, acessar e assistir a veículos alternativos ou locais. Assim, você pode ter contato com temas, formatos e opiniões que você não encontraria com facilidade na grande mídia.
  • É possível ajudar veículos alternativos divulgando seus conteúdos. Muitos recebem doações voluntárias (as vaquinhas ou crowdfunding), ou dependem de assinaturas para financiar seus custos de produção.
  • Você também pode ser um produtor de mídia: se você publica conteúdos em redes sociais, já é um comunicador. Pode aproveitar a facilidade das plataformas digitais e criar um site com colaboradores para difundir suas informações.

 

Para saber mais

Fórum Nacional pela Democratização da Comunicaçãohttp://fndc.org.br

  • Grupo que soma centenas de movimentos e associações que procura defender a pluralidade na mídia e combater a concentração da propriedade dos meios de comunicação. Apresenta propostas e campanhas para democratizar a comunicação brasileira.

Intervozeshttps://intervozes.org.br

  • Coletivo que promove maior acesso à comunicação social, desenvolve estudos importantes para entender os potenciais e as limitações da mídia no Brasil.

Artigo 19https://artigo19.org

  • Organização não-governamental criada na Inglaterra para defender a liberdade de expressão e o direito à informação. Produz relatórios e cartilhas para mostrar denunciar ameaças de censura no Brasil.

Rodrigo Ratier

Resumo em 5 pontos

1- Jornalismo existe para fazer notícias. Notícias, por sua vez, são o relato dos acontecimentos da realidade.

2- Relatos de qualidade trazem informação confiável. E informação confiável é a base para que as pessoas tomem decisões embasadas e adequadas para suas vidas.

3- O jornalismo deve buscar a objetividade, que é o relato desapaixonado dos fatos. Não se confunde com imparcialidade (nunca se posicionar). Se há informações de que um dos lados está certo e outro errado, tirar conclusões é bom jornalismo.

4- O jornalismo está sob intenso ataque. Políticos e outros agentes dizem que a mídia manipula a informação ao filtrá-la. Sob esse pretexto, defendem um contato direto entre líder e povo (a desintermediação).

5- É uma estratégia enganosa, que visa diminuir a função de vigilância que o jornalismo deve ter sobre o poder. A melhor forma de combatê-la é produzir reportagens precisas e completas. A matéria-prima para um bom texto é uma apuração robusta, com muitas entrevistas.

A pergunta que abre esse capítulo pode parecer estranha. Precisamos ainda hoje justificar o papel do jornalismo na sociedade?

A resposta é “sim”. Poucas vezes o jornalismo esteve tão sob ataque quanto hoje. Agentes, sobretudo políticos, tentam descredibilizar a mídia profissional com duas estratégias básicas. Primeiro, chamando-a de fake news. Segundo, dizendo que apenas eles, os políticos, são capazes de divulgar informações “sem filtro”, “sem distorções”. É a chamada “desintermediação”: certos políticos vendem a ilusão de que são eles o caminho para um contato direto, sem intermediários, entre o líder e o povo.

Perceba a inversão: uma das funções do jornalismo é justamente fiscalizar os poderosos e suas eventuais mentiras. Ao mirar contra o jornalismo e os jornalistas, os políticos pretendem se ver livres de qualquer controle e de prestação de contas.

Isso não significa que o jornalismo não tenha problemas. Tem diversos, e aqui a gente destaca um bastante grave: a mistura de informação com opinião. Estudiosos do tema desinformação apontam que essa junção foi um dos fatores que abriu caminho para a atual epidemia de fake news. Faz sentido: quando alguém pensa estar diante de uma informação (ou seja, ouvindo um relato, uma história), mas na verdade está tendo contato com uma tentativa de convencimento (ou seja, uma opinião), podemos falar que essa pessoa está sendo enganada, manipulada.

A internet e as redes sociais deram voz a quem antes não podia ter um jornal, uma rádio ou uma emissora de TV. A democratização – positiva – veio acompanhada de um lado nocivo: uma enorme quantidade de pessoas sem compromisso com o relato da realidade.

É justamente isso que o jornalismo faz: tenta ser o relato mais fiel possível da realidade. Veja só: não é a realidade em si, e também não é um espelho da realidade – ela é muito complexa e difícil de ser mostrada como um reflexo. Mas o jornalismo, com suas limitações, pode ser um retrato da realidade.

E aí a gente pode pensar nas mesmas dificuldades de tirar uma foto: para transmitir adequadamente o clima de uma cena, é preciso garantir o foco, é necessário cuidar do enquadramento, garantir que ninguém saia cortado na imagem etc.

Com o jornalismo, é a mesma coisa. É preciso observar uma série de cuidados para garantir que a informação esteja correta. A definição de notícia é “relato conforme os fatos”. Ou seja, o jornalista precisa ter compromisso com a precisão e a objetividade.

Objetividade. Podemos falar um pouco mais sobre essa palavra, que muitas vezes é confundida com “imparcialidade” (não tomar partido ou lado no relato). É bom distinguir: a imparcialidade é apenas uma palavra usada no marketing dos veículos de mídia. Não é um compromisso jornalístico: se houver um conflito e as evidências comprovarem que um dos lados têm razão, o correto a se fazer não é ser “imparcial”, ficar em cima do muro. O dever jornalístico é mostrar quem está certo.

A objetividade é outra coisa. Ela tem a ver com o relato desapaixonado, livre das percepções de cada ser humano que conta a história. Só por essa descrição, você já deve ter notado que se trata de algo impossível. Todos nós temos nossas visões de mundo e elas impactam, sim, como a gente conta uma história. Mas isso não nos impede de buscar ser o mais objetivo possível. Isso, sim, é um compromisso jornalístico. Você confere mais detalhes sobre esse tema importante no capítulo 13, “A Velha e boa reportagem”.

Para voltar ao ponto de partida, podemos retornar à pergunta inicial – o jornalismo serve para quê? – aprofundando-a. Se a função do jornalismo é produzir informação, ainda precisamos do jornalismo num mundo que hoje já tem tanta informação?

A resposta é: mais do que nunca. É uma questão de qualidade.

A função da informação é ajudar as pessoas a tomar decisões. E aí, algo tende a acontecer: se você toma decisões baseado em boas e confiáveis informações, suas decisões tendem a ser boas. Por outro lado, informação de má qualidade gera decisões… também de má qualidade.

Um exemplo simples: você está num ponto de ônibus e pergunta a um dos passageiros se o ônibus pára em uma determinada estação de trem. O passageiro diz que sim – e você acredita e embarca no veículo. O que acontece?

Se ele tiver dito a verdade – em outras palavras, se a informação for confiável –, você terá tomado uma decisão de boa qualidade e estará mais perto de seu destino. Por outro lado, se ele tiver mentido – intencionalmente ou não, pouco importa –, você estará, literalmente, perdido.

Com o jornalismo, é a mesma coisa. O jornalismo responsável constrói sua apuração com base em fatos, coletados por meio de pesquisa, testemunho do ou da repórter e, sobretudo, entrevistas. Quanto mais, melhor. Se o tema for polêmico, é fundamental ouvir as posições antagônicas.

Desinformação e notícias falsas podem desorientar. Informação de qualidade é essencial para a vida em sociedade.

 

Dicas práticas

  • O exercício do jornalismo exige consciência ética. O jornalista não é um herói, nem um carrasco que deve confrontar seus entrevistados. É um profissional que apura informações com rigor, sempre respeitando os interlocutores.
  • Por desconfiança, alguns entrevistados pedem que se envie a reportagem antes da publicação para “conferir se está tudo certo”. Essa não é uma prática aceitável, pois fere a independência jornalística.
  • Uma das formas de tranquilizar os entrevistados, também chamados de fontes de informação, é permitir que eles gravem a entrevista, se certificando de que não haverá distorções.
  • Da mesma maneira, para garantir a precisão das declarações e manter um registro para eventualidades, você deve gravar as entrevistas sempre que possível. Certifique-se que seu celular tem bateria e que está gravando adequadamente. Em paralelo, tome notas das informações mais importantes da conversa em um bloco de notas.
  • A preparação prévia é fundamental para extrair o máximo das entrevistas. Pesquise o que o entrevistado já disse sobre o assunto para evitar perguntas muito básicas — e para mostrar que você está inteirado dos fundamentos do tema abordado.

 

Para saber mais

A Rede de Jornalistas Internacionais (Ijnet) é uma referência confiável para explorar os conceitos básicos do jornalismo. A aba “ferramentas de jornalismo” traz guias práticos para quem quer pôr a mão na massa. Algumas recomendações:

Manuais de veículos de mídia são boas referências para tirar dúvidas éticas e de procedimentos jornalísticos do dia a dia, da apuração à edição final. O jornal Folha de S. Paulo disponibiliza a versão de 1996 de seu Manual de Redação, considerado uma referência na área. Outro manual consagrado, o do Estado de S. Paulo, também está disponível.

Luiz Henrique Parahyba e Rodrigo Ratier

Resumo em 5 pontos

1- Comunicação popular é uma forma alternativa de comunicação. Movimentos e organizações sociais criam canais para expressar opiniões, fazer denúncias e demandas junto ao poder público.

2- Dos anos 1970 para cá, ela assumiu muitas caras: rádio (poste, comunitária FM e rádio-escolas), vídeo popular, canal a cabo comunitário, revistas e jornais alternativos… e, agora, internet e redes sociais, que representaram acesso sem comparação a formas de expressão.

3- A comunicação popular tem uma faceta democrática e educadora. Por isso, o processo — que deve ser guiado pelo engajamento da comunidade e princípios de gestão participativa — é tão importante quanto o produto final.

4- Comunicar o quê? E para quem? A comunicação popular geralmente costuma tratar de assuntos da própria comunidade. Mas o público pode ser tanto a própria comunidade como formadores de opinião, para visibilidade a denúncias ou demandas junto ao poder público, por exemplo.

5- Publicar é só o primeiro passo. Nos dias de hoje, é preciso garantir que a mensagem chegue ao público. Perfis em redes sociais são imprescindíveis. Parceiras de trocas de conteúdo ou apuração conjuntas podem ser boas alternativas para aumentar o alcance.

O que queremos dizer quando usamos o termo “comunicação popular”? E por que o título deste capítulo fala em poder?

De início, cabe definir cada um dos termos.

Cicilia Peruzzo, uma das maiores especialistas do tema no Brasil, explica que a palavra “comunitário” tem sido usado para nomear desde formas de “comunicação do povo” até experiências da mídia comercial.

Peruzzo é taxativa: a comunicação popular é uma forma alternativa de comunicação. É um processo que nasce da ação de movimentos e organizações populares, que criam canais próprios de comunicação.

Há um sentido político nessa prática: segmentos excluídos se mobilizam para se expressar — denunciando, reivindicando, dando sua versão dos fatos, organizando a comunidade.

No Brasil, a comunicação popular remonta aos anos 1970. Desde então, vem construindo uma rica história: da rádio-poste em alto-falante para a rádio comunitária FM e as radio-escolas, do vídeo popular aos documentários, das revistas e jornais alternativos aos canais comunitários a cabo. Chegando, é claro, à internet e às redes sociais, que democratizaram ainda mais as formas de expressão e reduziram os custos de entrada para a comunicação popular.

Dependendo da época e local, a comunicação comunitária pode receber outros nomes: alternativa, participativa, horizontal e dialógica. Cada uma dessas palavras explica um pouco dessa prática que o estudioso Mário Kaplún classifica de  “comunicação libertadora, transformadora, que tem o povo como gerador e protagonista”. Daí o poder que mencionamos no título do capítulo.

Para cumprir sua função democrática e educadora, a comunicação popular não pode se resumir a uma entidade que se une para fazer um jornal, um programa de rádio e, agora mais comumente, sites e perfis em redes sociais — disso falaremos mais adiante. Nessa modalidade de comunicação, tão importante quanto o produto é o processo.

Uma palavra de ordem é “gestão participativa”. Se a ideia é auxiliar grupos sociais a refletirem sobre sua própria realidade para modificá-la, não dá para ter uma prática autoritária ou decidida de cima para baixo. Os integrantes da comunidade devem ser envolvidos em todas as etapas, da definição dos assuntos que serão tratados, passando pela apuração, escrita ou filmagem, edição e pós-produção.

Com a comunidade envolvida, a primeira questão é: comunicar o que? e para quem? A comunicação popular geralmente costuma tratar de assuntos da própria comunidade. Mas o público pode ser tanto a própria comunidade — uma forma de retratá-la sem os estereótipos de quem não a conhece bem — ou os formadores de opinião — estratégia para dar visibilidade a denúncias ou demandas junto ao poder público, por exemplo. Na comunicação popular é necessário a presença viva na comunidade, aldeia, categoria, organização ou movimento. É condição, entender e viver e saber a linguagem e oferecer conteúdo novos, desafiadores e ousados.

Em seguida, é importante definir uma equipe. O ideal é contar ao menos com algum colaborador remunerados, uma vez que boa parte da comunicação popular é feita voluntariamente e, por conta disso, o nível de engajamento pode variar. Outra opção é fazer um rodízio de funções entre os responsáveis, estabelecendo um prazo (uma edição ou um semestre, por exemplo) para a troca de funções.

Também é essencial investir na capacitação. Se a ideia for trabalhar com conteúdo informativo, é possível recorrer às escolas populares de jornalismo para garantir que as notícias tenham credibilidade.

Por fim, como estamos falando de comunicação popular, é fundamental incluir sempre uma etapa de planejamento e outra de avaliação — de caráter pedagógico e não punitivo, visando melhorar as produções posteriores. Para engajar ainda mais o grupo social foco das ações, é possível construir um conselho editorial. Formado por membros da própria comunidade, o conselho auxilia nos rumos do veículo de comunicação escolhido e favorece com que o objetivo das ações esteja sendo atingido.

 

Dicas práticas

  • A natureza da comunicação mudou muito nas últimas décadas. Hoje, não basta produzir conteúdo — é preciso criar caminhos para que ele chegue até seu público. Nesse sentido, criar, movimentar e expandir perfis em redes sociais é fundamental para qualquer organização (veja mais sobre o assunto no capítulo “marketing digital”)
  • Uma outra possibilidade são as parcerias. É possível estabelecer políticas de republicação com parceiros, trocas de conteúdo e apurações conjuntas com veículos da mídia tradicional. Todas essas são formas de melhorar o alcance do trabalho.
  • Como dissemos, a comunicação popular precisa ter um caráter educativo. No Brasil, a grande inspiração são os conceitos da pedagogia de Paulo Freire. Os livros do patrono da educação brasileira são um subsídio importante para pensar a prática. Uma recomendação introdutória é Pedagogia da Autonomia, a última obra lançada com Freire ainda vivo.

 

Para saber mais

Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular, Alternativa e Comunitária. Neste artigo produzido para o congresso Intercom, Cicilia Peruzzo retoma os conceitos e explica a diferença entre eles.

Caixa de Ferramentas. A Escola de Jornalismo da Énois Conteúdo apresenta conteúdo online sobre técnicas jornalísticas e de grupo.

Viração. Organização que produz a revista de mesmo nome, “de jovens para jovens”, e a Agência Jovem de Notícias. Possui ainda programas educativos para a comunicação popular.

Luiz Henrique Parahyba

Resumo em 5 pontos

1- Em termos práticos, uma rádio comunitária é uma emissora em freqüência modulada (FM) de baixa potência (25 Watts). Sua cobertura é restrita a um raio de 1 km a partir da antena transmissora.

2- As rádios comunitárias podem ser exploradas por associações e fundações comunitárias sem fins lucrativos. A programação deve visar a integração comunitária, prestação de serviços de utilidade pública, capacitação profissional e exercício da liberdade de expressão. Pode publicidade, mas apenas para cobrir os custos (“apoio cultural”).

3- A operação depende de autorização do Governo Federal. E o ok não é tudo: é preciso um bocado de organização e boa formação da equipe e dos conselhos de programação e diretivo.

4- O tema não faz parte das prioridades da atual gestão federal, o que tem emperrado as novas autorizações. Como alternativa, inclusive em termos de custos, é possível pensar nas webradios, que transmitem pela internet, e nos podcasts, que ficam armazenados nos tocadores digitais.

5- Para optar por uma das três modalidades, o fundamental é conhecer seu público – entendendo as condições de conectividade — e ter clareza sobre a intenção de sua organização: integração. Se for a integração da comunidade? Distribuição ampla? Acervo armazenável e acessível por um longo tempo?

Para quem gosta de informação, nada é mais rápido, prático e de amplo alcance que o rádio e sua instantaneidade. Nem mesmo a chegada da TV, depois da internet e das redes sociais, foi capaz de tirar da jogada essa mídia quase centenária no Brasil (a primeira emissora foi fundada em 1923). Se é verdade que a audiência do rádio já foi bem maior, ele ainda tem espaço cativo na vida de muitas pessoas.

Uma das razões, como dissemos, é a magia do “tempo real”. A outra é o baixo custo para o ouvinte. Um radinho de pilha custa poucas dezenas de reais. Em muitas regiões em que a digitalização ainda engatinha, o rádio acaba se transformando em um importante pólo de comunicação comunitária e regional, com forte presença em atividades como prestação de serviços e educação.

No Brasil, uma emissora de rádio comercial é uma concessão. Isso significa que uma pessoa interessada em transmitir pelas ondas de AM ou FM entrou com um pedido no Ministério das Comunicações e venceu uma licitação. As concessões devem respeitar uma série de regras — algumas das quais ligadas à exigência de programação jornalística. Na prática, porém, impera a concentração de propriedade e as indicações políticas. Pouca gente acaba tendo a chance de transmitir — e as programações podem ser de qualidade muito questionável.

Uma alternativa para a democratização são as chamadas rádios comunitárias.

Em termos práticos, uma rádio comunitária é uma emissora em freqüência modulada (FM) de baixa potência (25 Watts). Sua cobertura é restrita a um raio de 1 km a partir da antena transmissora.

Parece pouco, mas é uma cobertura importante para muitas comunidades, sobretudo se a programação investe na prestação de serviços e na educação em sentido amplo, da saúde à organização sindical, e se a população tem vez e voz na emissora — participando tanto da produção dos programas quanto das discussões sobre os rumos da rádio.

Somente podem explorar esse serviço associações e fundações comunitárias sem fins lucrativos — e elas devem ter sede na localidade. A rádio pode ter publicidade na forma de “apoio cultural” para cobrir os custos, mas não pode dar lucro.

Os movimentos de rádios comunitárias surgem na década de 1980, quando ainda eram chamadas de rádios livres ou “piratas”. Em São Paulo, Rio de Janeiro e em pontos no Nordeste e Centro-Oeste apareciam coletivos, movimentos e grupos que montavam, instalavam e colocavam no ar, sem autorização, emissoras de baixa frequência. Uma espécie de  “reforma agrária” nas ondas do ar, por conta própria.

Ainda nos últimos anos da Ditadura Militar (1964-1985), esses movimentos duramente reprimidos. Ainda hoje é possível encontrar focos de resistência com grupos que montam e transmitem de forma não autorizada.

A regularização veio com a Lei Federal 9.612, em 1998. A legislação estabeleceu a área de alcance e a natureza da programação: integração comunitária, prestação de serviços de utilidade pública, capacitação profissional e exercício da liberdade de expressão.

As autorizações dependem do aceite do Governo Federal. Também é preciso ter e organização — uma boa formação da equipe, dos conselhos de programação (que define o perfil da emissora e o que efetivamente será transmitido) e diretivo (que define os rumos gerais da rádio).

Apesar da legislação acessível, avanços técnicos e custos razoáveis, ainda existem cerca de mil municípios que não dispõem de canais de rádio — sejam eles comerciais ou comunitários.

No caso das rádios comunitárias, a perspectiva não é das melhores: os pedidos têm enfrentado enorme burocracia e quase sempre esbarrado na falta de resposta, uma vez que o tema atualmente está fora das políticas públicas do Governo Federal.

Com o avanço da tecnologia, surgem outras opções complementares às transmissões radiofônicas, como as webradios. Para essa modalidade, é necessário o acesso a uma rede de internet com boa capacidade, o que muitas vezes é uma dificuldade no campo, mas pode ser uma boa opção para os centros urbanos.

Em geral, como as equipes de rádios web são mais enxutas, a solução pode ser recorrer a aplicativos para transmissão [explicar].

Outra modalidade que tem conquistado espaço é o podcast, programas sonoros de variados formatos que ficam disponíveis nos tocadores digitais e nos agregadores de podcast.

Para optar por uma das três modalidades, o fundamental é conhecer seu público – entendendo, por exemplo, as condições de conectividade de uma determinada comunidade — e ter clareza sobre a intenção de sua organização. Se for a integração de uma comunidade com pouco acesso à internet, a rádio comunitária pode ser a melhor opção. Se a ideia é produção de conteúdo autoral para ser distribuído para uma audiência não localizada, a webrádio pode levar a mensagem virtualmente a todo o mundo. Se por outro lado você pretende criar séries — de entrevistas, de aprofundamento em um tema, radionovelas etc. — a produção de podcasts garante vida longa e acessibilidade a todos os episódios sem depender tanto do fator novidade.

 

Dicas práticas

  • Como qualquer outra rádio, as rádios comunitárias também precisam fidelizar seu público. Por isso, é importante ter programação 24h, mesmo que automatizada em determinados horários (veja indicação de programa de automatização abaixo). Também é importante pensar em uma grade de programação variada ao longo do dia e em momentos de interação com os ouvintes.
  • Podcasts, por sua vez, pedem uma produção apurada. Vale caprichar na trilha, nas vinhetas e na diversificação de vozes masculinas e femininas. Tudo isso ajuda a conferir a personalidade do podcast.
  • Podcasts e programas especiais ganham se tiverem hospedagem, garantindo a formação de um acervo. Pode ser no blog ou site da rádio — item essencial memso para emissoras que não sejam web — ou tocadores difigitais como Deezer, Spotify e Soundcloud.
  • Aposte também na distribuição via canais alternativos. Com o formato mp3, é possível disponibilizar as produções especiais via Telegram e Whatsapp diretamente para a audiência cadastrada.

 

Para saber mais

Desenhamos fatos sobre a concessão de rádio e televisão. Reportagem da agência de checagem Aos Fatos explica, em quadrinhos, como funciona a outorga e renovação dos direitos de transmissão das emissoras comerciais.

Cartilha RadCom. O material do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações responde às principais dúvidas sobre o caminho para pedir uma autorização para uma rádio comunitária junto ao governo.

Zara Radio. Programa de automação de rádio, que transforma o computador em uma rádio musical. Idel para emissoras com baixo orçamento e que queiram ter programação 24h.

Soundcloud. Plataforma online de publicação de áudio. Você pode disponibilizar lá seu conteúdo, que será compartilhado com outros ouvintes e produtores.

Audacity. Software livre e gratuito de edição de áudio.

Alternativas TECNICAS E TECNOLÓGICAS

 

Utilizar programa de AUTOMAÇÃO de RÁDIO – como ZARA RÁDIO

Disponibilizar as produções em redes como soundcloud.com

Capacitar técnicos para operação de áudio e utilizar banco de áudios com gravação de vozes – o última experiência com êxito é em Goiânia –GO, na região noroeste da cidade com a Rádio Noroeste – https://www.portalnoroeste.net.br/  que pode ser modelo para experiência de RadCom raiz.

Para edição de áudio é recomendado SONY SOUND FORGE 10, um programa que é fácil e barato.

Gravação e disponibilidade de vozes – https://www.mercadodooff.com.br/